Ao mesmo tempo em que desejam a melhor educação para seus filhos desde o princípio, pais de crianças em idade pré-escolar têm ouvido cada vez mais que a alfabetização precoce pode tanto promover o desenvolvimento cognitivo e intelectual do indivíduo como pode ser prejudicial, ao fazer com que sejam puladas etapas importantes da vida. Isso significa, então, que as crianças não devem ter contato com as letras antes de determinada idade? Também não é bem por aí.
Antes de mais nada, é preciso entender as diferenças entre a alfabetização e o letramento. A alfabetização é um processo que começa muito antes de a criança começar a ser submetida, na escola, ao ensino formal da leitura e da escrita. Representa, na verdade, a aquisição do domínio de um sistema linguístico e das habilidades necessárias para ler e escrever. Já por letramento se compreende o domínio mecânico da leitura e da escrita. Assim, em idade pré-escolar, o foco deve estar no processo de alfabetização e não no de letramento, embora tampouco deva ser excluído.
Esse processo simultâneo de aprendizagem precisa ocorrer a partir de uma naturalidade que inclui o estímulo do professor, a vontade e a capacidade das crianças e o desejo do grupo. Na prática, é fundamental que as brincadeiras, o lúdico, os jogos e a convivência (atividades centrais da educação infantil) jamais fiquem em segundo plano em relação à alfabetização. O que acha então: é ou não possível realizar a alfabetização na escola infantil? Pois confira agora mesmo nosso post e tire suas próprias conclusões:
Alfabetizando até o ambiente
Uma das maneiras de se garantir esse equilíbrio e a ocorrência natural da alfabetização é criando um ambiente alfabetizador, em que o processo de aprendizagem da leitura e da escrita vai sendo desencadeado e elaborado aos poucos. Assim, a sala de aula deve estar preparada de forma a despertar o interesse pela leitura, pela escrita e pelo manuseio do material didático. Para promover esse estímulo, pode-se entrar em contato com músicas, filmes e peças de teatro, pendurar objetos e trabalhos nas paredes e até mesmo cultivar plantas na sala. É bem isso: o ambiente deve ser rico em atividades que possam ser vivenciadas pelas crianças. Esse é um ambiente alfabetizador.
O que é ao mesmo tempo desafiador e possível de ser realizado funciona como estímulo, principalmente ao levar em consideração o fato de que as crianças têm preferências por atividades diferentes e ritmos próprios. Por isso, o ambiente alfabetizador precisa ser organizado e assimilar hábitos que contribuam para sua independência, cada uma a seu modo.
Outra maneira de se garantir a naturalização da alfabetização é realizando leituras compartilhadas, em que o professor não apenas lê as histórias, mas faz com que o aluno também folheie o livro. A ideia é que, com o olhar do aluno sobre as páginas, ele naturalmente sentirá a necessidade de dominar aquele código. Para isso, vale qualquer tipo de leitura, desde jornais, mapas e gibis até bulas de remédio, receitas culinárias e placas de trânsito. Compreender a importância da linguagem escrita no dia a dia fará com que a criança tenha mais curiosidade em relação a ela.
No caso da apresentação das crianças às letras e aos números, o ideal é começar pela letra de imprensa em caixa alta, sem detalhes, uma vez que esse modelo não só tem um traçado mais simples como está presente em todos os momentos da vida de crianças e adultos: nos livros, nos dispositivos eletrônicos, nas revistas e jornais, na televisão, nas embalagens e até no teclado do computador. No entanto, como são vários os alfabetos, será preciso trabalhar com todos os tipos de letras. Aos poucos, deve-se ir apresentando as correspondentes cursivas e em caixa baixa dos tipos de imprensa, mesmo que as crianças não registrem ainda do que se tratam aquelas formas. A intenção é que adquiram familiaridade.
Brincando e aprendendo sempre
Embora pareçam apenas passatempos, as brincadeiras lúdicas têm uma grande importância na geração e manutenção de um ambiente alfabetizador para crianças pequenas. Afinal, elas funcionam como estratégia de trabalho para o desenvolvimento de conceitos, procedimentos e atitudes das crianças. Ao brincar, elas aprendem a lidar com as próprias emoções, equilibram as tensões de seu mundo cultural, constroem sua individualidade, sua marca pessoal e sua personalidade.
A partir dos 3 anos, quando já está apta a compreender o funcionamento de um jogo, a criança pode também se aventurar pela alfabetização por meio de jogos motores (como amarelinha, pega-pega, esconde-esconde), cognitivos (encaixe, pega-varetas) e afetivos (dança das cadeiras e cabra-cega, por exemplo). Essas práticas ensinam sobre a existência de regras, que delimitam e organizam, embora não apenas possam como devam ser revistas e até modificadas. Isso, por sua vez, é importante para que as crianças testem, experimentem e façam novas propostas. Com isso, aprendem a nomear o que veem, sentem e compreendem, relacionando palavras a situações.
Falando para ler e escrever bem
A criança que melhor fala e compreende o discurso oral tem mais facilidade para o aprendizado da leitura e da escrita. Assim, a qualidade da interação verbal da criança com os adultos que a cercam será decisiva para a qualidade de sua relação com as letras. Mas por mais que a fala seja o principal instrumento de comunicação das crianças com os professores e colegas, apenas recentemente se tornou conteúdo escolar, sabia?
Para desenvolver a comunicação oral, os assuntos tratados com as crianças na sala de aula devem ser diversificados, assim como deve haver uma variação dos próprios interlocutores. É preciso entender que a linguagem oral não serve apenas para expressar ideias e promover a comunicação e a manutenção dos relacionamentos sociais. Ela é fundamental também para o desenvolvimento cognitivo, especialmente em relação ao aprendizado da escrita e da leitura.
Com a evolução da habilidade de comunicação, as crianças aprendem a diferenciar o oral do escrito (percebendo a diferença entre o que é lido e o que é contado), organizam o pensamento e a linguagem, ampliam o vocabulário e aprendem a defender seus pontos de vista. Por isso, cantar músicas ou cantigas de roda e recitar poesias ou fazer jogos orais também são iniciativas valiosas no processo de alfabetização, já que propiciam a compreensão da formação das sílabas e dos fonemas das palavras. Entende agora por que o trabalho com rima e aliterações é tão importante?
Depois de analisar tudo isso, a que conclusão chegou? É ou não possível realizar a alfabetização na escola infantil? Comente aqui e divida suas impressões conosco!